José Miguel Santos

O meu nome é José Miguel e vou partilhar convosco um pouco da minha história.

Tive a oportunidade de nascer num lar cristão. Os meus pais converteram-se em Angola e foi o meu pai quem levou a minha mãe à igreja pela primeira vez, apesar de quando eu nasci ele já não a frequentar.

Somos 5 irmãos, eu sou o segundo mais velho. O meu irmão mais velho nunca gostou muito de ir à igreja e fazia sempre força para não ir, mas os meus pais insistiam para que fossemos. Contudo, a partir dos 14 anos, o meu pai entendeu que podíamos decidir se queríamos ir ou não. Foi assim que me afastei da igreja. Com 14 anos pensava que era um homem e que sabia o que fazia, foi nessa altura que comecei a tomar as piores decisões da minha vida. Comecei a beber e a fumar com o meu grupo de amigos. Éramos muito unidos e fazíamos praticamente tudo juntos, passávamos mais tempo na rua do que em casa.

Entretanto, o meu irmão mais velho descobriu que eu fumava haxixe e contou aos nossos pais. No dia em que o meu irmão fez queixa ao meu pai, deixei de lhe falar. Estivemos assim durante 6 anos.

Deixei a escola aos 16 anos só com 7º ano. O que eu queria era ter dinheiro para os meus vícios. Sempre procurei as más companhias, mas, na verdade, era com elas que me sentia bem ou, se calhar, não sentia de todo, por causa do efeito das drogas e do álcool.

Daí em diante a minha vida era trabalhar 2 ou 3 meses e depois ficar outros 2 ou 3 sem fazer nada. Apesar disso arranjava sempre maneira de consumir haxixe e álcool e cheguei a experimentei heroína. Fumei várias vezes mas sempre com longos períodos de intervalo, pelo que não cheguei a ficar dependente. Contudo, vi muitos amigos ficarem, alguns chegaram mesmo a morrer. Sempre tive consciência de que aquela droga não era para mim, contudo, bebia constantemente e achava que tinha tudo controlado.

Quando sai da tropa comecei a trabalhar como carpinteiro numa firma. Faltava muitas vezes, não tinha interesse naquilo que fazia, só queria o dinheiro para os meus vícios, gastava tudo o que ganhava e mais algum que aparecesse.

Foi então que conheci a mulher com quem viria a viver durante 3 anos. Durante esse tempo, tentei que os meus consumos fossem o mais discretos possível, durante o dia bebia moderadamente mas à noite, depois de a deixar em casa, bebia o que quisesse. Como é óbvio as coisas não resultaram e acabámos por nos separar. O que fez com que eu ficasse sem ninguém a quem prestar contas. A partir de então os consumos aumentaram e voltei àquilo que sempre tinha sido; alguém sem objetivos na vida, sem vontade de fazer fosse o que fosse. Cheguei a ter outros relacionamentos mas acabavam sempre, fosse qual fosse o motivo e, quando isso acontecia, eu piorava sempre, mas pelo menos mantive o trabalho.

Certo dia de manhã, as mãos tremiam tanto que para beber um café, tive de agarrar a chávena com as duas mãos. Foi então que percebi que não era café que tinha de beber de manhã, mas sim álcool para conseguir ir trabalhar.

Continuei cada vez pior, até que, um dia sem perceber muito bem, tive vontade de largar tudo, de ir-me embora para longe, já nada fazia sentido na minha vida. Os meus pais sempre me ajudaram, mas desta vez, já estavam cansados das minhas figuras tristes e dos meus esquemas. De cinco filhos, sempre fui o que deu mais trabalho. Foi então a minha mãe me falou de uma pessoa amiga da igreja, a Iolanda que eu também conhecia. Disse-me que ela trabalhava no Desafio Jovem – uma instituição que tratava de toxicodependentes e alcoólicos.

Aceitei o conselho da minha mãe e eu fui ter com a Iolanda à Comunidade de Fanhões, que me explicou como funcionava o programa e me aconselhou a ir ao café convívio em Lisboa. Concordei em ir e dei início ao meu processo de admissão. Durante o tempo que frequentei o café convívio mantive sempre os meus consumos. Tinha determinado que deixava assim que entrasse para um centro, e que não estava interessado na parte espiritual do programa. Não tinha interesse num possível relacionamento com Deus.

Assim que entrei no programa, percebi que nada daquilo fazia sentido sem Deus, tinha duas hipóteses: ou procurava outro tipo de programa ou tinha de me aproximar de Deus.

Já que ali estava, decidi pôr Deus a prova.

 – Deus se existes, se estás aí, se queres saber quem eu sou, se te preocupas comigo, prova!

Foi quando, certo dia numa reunião na capela começámos a cantar uma música, de que eu me lembrava de miúdo. A letra diz: “olho em tudo e sempre vejo a Ti […] é impossível eu não Te encontrar”, e naquele momento, aquela música fez todo o sentido na minha vida. A verdade é que é possível ver a mão de Deus em tudo e, de facto, Ele sempre esteve na minha vida, sempre me guardou; comecei a lembrar-me de acidentes que tive sob o efeito do álcool e como nunca me magoei com gravidade. Afinal Deus tinha um propósito para mim! E queria que eu me reconciliasse com Ele mas, foi preciso ficar sem forças para perceber isso.

Hoje, passados 6 anos, sei que Deus me chamou para trabalhar, para viver para ele, não quero voltar a perdê-lo, sei que Ele tem o melhor para mim. Hoje sou casado com uma mulher linda que tenho a certeza que foi Deus quem pôs na minha vida. E tudo isto é Deus quem me tem acrescentado. De uma pessoa sem objetivos, sem determinação para fazer nada, passei a ter objetivos e sonhos grandes, que sei só Deus poderia ter plantado em mim. Tudo o que desejo é fazer a Sua vontade.