Chamo-me Noélia e com 16 anos já tinha experimentado diversas drogas e saído várias vezes de casa para me juntar com um rapaz que consumia há vários anos. Comecei a consumir cada vez mais e, quando dei por mim, estava completamente dependente.
Passados três anos separei-me dele, mas não quis ajuda dos meus pais. Achava que tendo um emprego conseguiria sobreviver mas, pouco tempo depois, fiquei sem trabalho e a viver na rua. Dediquei-me, então, ao tráfico e à prostituição para sustentar o vício e assim se passaram 10 anos, de contínua degradação: muita fome, muito frio e muitos maus tratos.
Já com 25 anos adoeci gravemente. Como não fui logo ao médico, acabei por dar entrada no hospital de Faro quase a morrer. Só saí passados 4 meses. Fui operada aos intestinos várias vezes, tive uma pneumonia grave, estive em coma induzido. Os médicos diziam que não havia mais nada a fazer e queriam desligar as máquinas, mas o Dr. Pimenta de Castro não permitiu. Ainda não tinha perdido a esperança e enquanto as máquinas não fossem mesmo necessárias não havia porque as desligar. (Deus já me guardava sem eu saber!)
Quando acordei do coma, eu que sempre achei que não precisava de ninguém, agora precisava de ajuda até para a própria higiene…
Voltei para casa dos meus pais ao fim de 10 anos. Mantive-me sóbria durante algum tempo mas, com aquele vazio tão grande dentro de mim, a recaída era mais que previsível. Por isso, pedi ajuda à Patrícia Campôa. Ela estava completamente mudada, e várias vezes me tentou convencer a deixar aquela vida, dizia-me para olhar para o seu exemplo e acreditar.
Foi assim que entrei para o programa do Desafio Jovem. Os primeiros dias foram muito difíceis, mas o que mais me incomodava era o facto de aquelas pessoas me darem tanto amor e carinho sem me conhecerem. Era algo a que não estava habituada. Elas mostraram-me o amor incondicional de Deus na prática e, com o passar do tempo, esse amor foi-me quebrando e transformando.
Aceitar que Deus me ama foi a melhor decisão que fiz até hoje. Percebi que podia confiar e entregar-me a esse amor, deixá-lo transformar-me de dentro para fora. Uma das minhas maiores lutas era não conseguir perdoar. Porém, quando me entreguei verdadeiramente a Deus senti-me livre! Não há palavras para explicar o que é conseguir pedir a Deus o bem de quem me fez tanto mal, e sentir o rancor e o ódio desaparecerem.
Deus trabalhou em tantas áreas da minha vida: saber o que é ser família, o que é ser mulher, dona de casa e trabalhadora. O tempo de programa foi fundamental para o que sou hoje! Terminei o programa e fiquei a trabalhar na lavandaria da Instituição… quando entrei nem a ferro sabia passar…
Como toda a mulher, sonhava casar e ter filhos apesar de pensar que era impossível, depois de todas as operações e complicações que tive.
Mas, os milagres ainda não tinham terminado. Acabei por conhecer um rapaz que também tinha feito o programa. Era uma pessoa formada, culta, sabia falar e por isso achei que jamais se interessaria por mim. Contudo, Deus achou o contrário. Afinal, ele reparara em mim e o sentimento era recíproco e sério. Casámos dia 11 de Julho de 2009.
Hoje, somos um casal feliz, com uma vida normal, temos dois filhos e mais um de um casamento anterior. Estamos vivos, temos projetos para o futuro e somos respeitados, não pelo que temos mas pelo que Deus fez em nós.
Agradeço a Deus o dia em que conheci essa grande maternidade de esperança chamada Desafio Jovem, que me apresentou Jesus!