Rafael Martins

 

Olá a todos! Sou o Rafael Matias, tenho 41 anos de idade e sou natural da Covilhã. Desde a infância que tive uma vida complicada. Fui criado “a meias” entre a casa dos meus pais e a casa da minha bisavó. Muitos dos dias eram passados na rua. No jardim publico, a jogar a bola, nos bombeiros, com os amigos, na piscina, etc. No entanto, apesar de aparentar ser uma criança normal, passei várias dificuldades. Com 6/7 anos fui vítima de abuso sexual. Guardei segredo. Talvez por medo ou por outra coisa qualquer. E isso marcou-me profundamente.  A partir dos 8 anos passei a viver em Lisboa. Pais e avós decidiram por bem que assim fosse com o objetivo de me proporcionar uma vida melhor. Mas a mudança de cidade, amigos, hábitos, etc. foi um choque enorme e algo muito difícil de aceitar. A adaptação ao então admirável mundo novo foi lenta e ao invés de progressiva, regressiva. Era um enfant terrible e a rebeldia com o passar do tempo agravou-se. Em casa, apelidavam-me de o bicho do mato. Palavras depreciativas eram uma constante. Na escola sofria de bullying. Ia crescendo defeituoso. Se por um lado a família fazia os possíveis e os impossíveis para me verem bem, por outro lado, o meu mundo interior se desmoronava a cada dia que passava. Queria que tudo fosse diferente, perguntava-me o porquê de um sem número de coisas mas não obtinha respostas. Sentia um vazio enorme que cavava um poço cada vez mais profundo. Ao não saber lidar com as diversas situações adversas com as quais me deparava, comecei a buscar alternativas que me ajudassem a esquecer tudo o resto. Foi então que aos 14 anos tive o primeiro contacto com as drogas leves. Um charro de erva fumado entre amigos de escola. Estava dado o pontapé de saída para um jogo que teria mais do que 90m de duração. A partir desta fase tudo foi de mal a pior. Comecei a perder as estribeiras por completo. Fugi de casa várias vezes. Tentava encontrar-me, perdido entre as ruas de Lisboa. Bebia ate perder a noção. Fazia de quase tudo para poder consumir. Pedia esmola a quem passava. Roubava. Prostituía-me. Procurava prazer em salas de cinema para adultos. Comprava amor de prostitutas. O meu coração gritava silenciosamente, com a esperança de que fosse ouvido. No fundo, tudo o que queria era saber e sentir que era amado. Cheguei a crer que estava fadado para ser sempre um junkie. Desejei a morte. Queria pôr um ponto final na minha história que se adivinhava de final infeliz.

Mas ainda não era o fim! Decorria o ano de 2005. Vivia em casa de uns amigos de consumos em Campo de Ourique e era hábito ir diariamente à Meia Laranja comprar droga. E foi aí que tive o primeiro contacto com o Desafio Jovem através das equipas de rua. Entre outras coisas falaram-me de Deus. Assunto que não me era estranho devido ao facto de ter tido sido criado com princípios cristãos desde tenra idade. Mas o factor Deus além de me ser familiar era ao mesmo tempo bastante complexo. Mesmo assim, creio que pela primeira vez senti uma réstia de esperança. E este encontro ressoava na minha mente a cada dia que passava. Num Domingo à tarde, sem saber como, enquanto deambulava pelas ruas de Lisboa, fui parar à Assembleia de Deus da Rua Neves Ferreira. Assisti ao culto e no final foi feito um apelo para orarem por quem quisesse que Deus fizesse um milagre na sua vida. Não hesitei e fui à frente. Curiosamente, quem orou por mim, foi um ex-aluno que tinha feito o programa do Desafio Jovem. Conversámos um pouco, deu-me o seu testemunho e convidou-me a frequentar o Café Convívio em Chelas. Nessa altura vivia na rua. No entanto, voltei a casa dos meus avós e passado um tempo iniciei o meu processo de entrada no CAS (Centro de Apoio Social) em Chelas. Tardou apenas cerca de 3 meses até ingressar na Comunidade Terapêutica, na Castanheira do Ribatejo, no dia 22 de março de 2006. Uma data que nunca irei esquecer. Recordo ter sido muito bem recebido por uma equipa fantástica de conselheiros e respetivas famílias. O que mais me despertava a atenção era o facto destas pessoas me aceitarem e amarem sem pedirem nada em troca. Havia algo diferente nelas que me levava a querer ser como elas. Envolvi-me o mais que pude com o que era a dinâmica da Comunidade, mas não foi o suficiente. Ao fim de 9 meses tive a minha primeira recaída durante um fim de semana. E depois outra, e outras tantas que perdi a conta. Durante 5 anos passei pelas Comunidades de Castanheira do Ribatejo, Alter do Chão, Salvaterra de Magos e Fanhões. E ainda que tenha passado por vários processos de restauração, todos foram em vão. Um dia saí e nunca mais voltei.

A viagem, na montanha russa da vida, prosseguiu, mas continuava à procura de um caminho reto para andar. Bati a várias portas, mas o resultado era sempre o mesmo: – frustração. E foi no meio de tanta frustração que em 2017 me dei conta do quão pecador era e de que precisava de Deus na minha vida. Pedi-lhe perdão e que tomasse conta do meu coração. E assim foi. Apesar de atualmente servir a Deus na Remar, não esqueço as experiências vividas no Desafio Jovem. Sou grato a Deus por este ministério. A semente foi lançada lá.

Romanos 8:28 diz que todas as coisas obram para bem dos que amam a Deus. Sou grato a Deus também pelo meu passado porque é com ele e através dele que no presente construo o meu futuro. Um futuro de esperança, tendo os olhos colocados em Jesus. Que Deus ricamente vos abençoe. Shalom.