Maria Lourenço

O meu nome é Maria, sou casada, tenho três filhos e moro em Cascais. Sou rececionista na ABLA, uma IPSS sediada em Carcavelos. Trabalho nesta instituição desde o dia que acabei o Programa do Desafio Jovem, já lá vão 15 anos.

Entrei no Centro Terapêutico Feminino, ainda em Lourel, em 2002. Quando lá cheguei, estava num estado de extrema fraqueza, física e emocional; o corpo arruinado pelo consumo ininterrupto da Heroína, Cocaína e dos Serenais (os únicos comprimidos que me faziam adormecer) e emocionalmente desgastada, resultado da vergonha e do desânimo, acumulados durante anos. A minha ida para o Desafio Jovem foi fruto da dedicação e teimosia de dúzia e meia de pessoas:

O pessoal da Equipe de Rua “Encontros com Resposta”, um projeto da ABLA, e o pessoal do Café Convívio da Parede, um projeto da ICMAV – Igreja Cristã Manancial de Águas Vivas. Os primeiros a entrar em contacto comigo foi a Equipe de Rua. Vinham numa autocaravana até ao Bairro das Marianas e Alcoitão, duas localidades de tráfico e consumo de drogas. A Equipe de Rua vinha até nós, toxicodependentes, com o pretexto de fazer troca de seringas usadas por novas, mas com o objetivo de influenciar positivamente o maior número possível de vidas. Traziam café e bolachas, traziam, principalmente, palavras de ânimo e encorajamento. Trabalharam a minha motivação, diziam-me que ainda havia tempo de mudar o meu rumo, diziam-me que Deus existia e que me amava e que tinha um propósito para mim e para a minha filha. Eu não tinha nascido para morrer ali e era isso que Deus me queria dizer.

No início, nem parava para os ouvir por me ser impossível acreditar. “Deus, amar-me?! Depois de todas as asneiradas que fiz?!” Mas, com o tempo, duas questões começaram a martelar-me a cabeça:

“E se este Deus fosse real e verdadeiramente me amasse? E se eu, ao recusar esta oportunidade, perderia a maior chance da minha vida?”.

Nada a perder e tudo a ganhar. Decidi arriscar. Deu-se início ao processo de entrada. Comecei a frequentar as reuniões do Café Convívio, onde continuei a ser motivada, onde ouvia a Palavra de Deus e onde a esperança aumentava. Disseram-me que Deus tinha planos para mim, que poderia recomeçar de novo: poderia ter uma vida saudável e encontrar o meu lugar na sociedade, poderia fazer novas amizades, poderia recuperar a relação com a família e restaurar o elo com a minha filha e isto, ser uma verdadeiramente mãe para a minha filha, era das coisas que eu mais queria! Casar era a outra coisa que eu mais desejava. Sonhava em encontrar um companheiro para toda a vida, construir o meu próprio Lar. Por todos estes sonhos é que entrei no Desafio Jovem.

Acredito que um toxicodependente não deixa de sonhar. Simplesmente há aqueles dias em que pensa que não tem direito em fazê-lo. Ser “normal” era meu sonho. Normal e feliz. O meu tempo no Desafio Jovem não foi fácil e é isso mesmo que se pretende, que não seja fácil! Há que falar das coisas, ir ao fundo das questões, identificar o verdadeiro problema e só conseguimos dar estes passos revivendo traumas, mexendo nas feridas. Tudo isto causa dor e desconforto, mas não há volta a dar, é assim que se inicia a cura interior.

 Creio que esta foi das maiores lacunas em todas as minhas outras tentativas de recuperação: Limpava o meu organismo das drogas, mas não limpava meu coração, minhas emoções, minhas mágoas, minha alma, o meu “eu”. Deixar de consumir drogas e não haver restauração em mim e na minha família, foi fator negativo. Assim como não ter substituído as “velhas” amizades por “novas”. Deixava de consumir drogas, mas tudo o resto continuava irremediavelmente igual. No Desafio Jovem encontrei pessoas que se prontificaram a caminhar comigo nesta nova caminhada. E foi no Desafio Jovem que me converti, que aceitei Jesus como meu Senhor e Salvador. Foi no Desafio Jovem, num culto de Família, que tive o primeiro vislumbre da grandiosidade do Amor de Deus por mim. E isso transformou-me. O Desafio Jovem foi o início.

 Hoje sou uma pessoa completamente diferente. Levo uma vida saudável e encontrei o meu lugar na sociedade. Tenho imensos amigos, amigos tremendos. Recuperei o respeito da minha família. Reconquistei a confiança da minha filha.

Casei! Fui novamente mãe.

 

“Porque não me esqueci dos planos que fiz a teu respeito, planos de bem e não de mal, para te dar um futuro e uma esperança” Jeremias 29.11

As primeiras palavras que impactaram a minha vida, 15 anos atrás. E que me seguem até aos dias de hoje, tanto nos maus momentos, como nos bons, tanto seja tempo de choro, como tempo de gratidão.

Deus é Fiel, Deus é bom!