Venho de uma família de 3 irmãos e sou o mais velho.
A minha avó fazia parte da Igreja Baptista de Faro e desde pequeno me levava à igreja com ela. Fui crescendo dando uns pulinhos na igreja e ouvindo a palavra de Deus, mas nunca me fixando nem assumindo nenhum compromisso. Era por fases…
Quando saí do ciclo para o liceu comecei a fumar haxixe com os amigos, tinha cerca de 12/13 anos. Comecei a fazer surf e nesta altura também mudei de zona, conheci novos amigos e comecei a experimentar coisas novas.
Fruto de um pai ausente da minha vida e ter crescido com muitas inseguranças, comecei a afirmar-me com consumos, com novas amizades e dai até à heroína foi um passo muito rápido… com 15/16 anos experimentei heroína fumada, com consumos frequentes ao fim de semana, mas sempre a estudar, a vender material de surf, a organizar campeonatos de Surf e com o dinheiro extra gastava tudo em noites, droga, namoradas, discotecas, mas nunca deixei de estudar. Fiz o 12º ano.
A minha mãe reparava nalgumas coisas, mas não queria assumir que havia um problema para resolver. O meu pai dava-me os bens materiais que eu queria, mas continuava muito ausente. As discussões entre eles também me afetavam e eram muito dolorosas para mim.
Entretanto, venho para Lisboa tirar o curso de Direito, chumbei logo no 1º ano por causa dos consumos, isto porque que vivia em 7 Rios, estudava na Junqueira e passava todos os dias pelo Casal Ventoso, e a situação começou a ficar muito complicada.
Não ia às aulas e só me levantada para ir consumir. Uma namorada minha disse à minha mãe o que estava a acontecer, lá atinei, fiz o 1º ano, mas os consumos não pararam. Vivia numa enorme incerteza do que queria, do que era, do que a vida era para mim. Nessa altura era seguido em Faro pelo Dr. João Goulão (hoje em dia, um amigo e Presidente do SICAD). Íamos ao seu consultório, em privado, tomar as medicações por causa dos consumos, mas nada resultava.
Venho para o 2º ano de direito e aí as coisas descambaram de vez. Volto para o Algarve, começo a trabalhar num Hotel em Vila Real de Sto. António e dali a Espanha era um pulinho. Parecia que onde eu estava, a droga estava sempre ali próxima, a um passo de distância, mas mantinha uma aparência de não consumir, de coitadinho, e conseguia disfarçar.
Mais tarde, comecei a trabalhar numa financeira, onde ganhei muito dinheiro e os consumos não pararam e a cocaína começou a ser um consumo diário, juntamente com a heroína. No meio disto tudo, muitas desilusões, namoradas, complicações a nível de saúde, porque era diabético desde os 18 anos devido a um acidente de carro (o miúdo que se pôs à minha frente de bicicleta, morreu).
No meio disto a minha avó Maria José, mãe do pai, crente fervorosa orava com as amigas para que eu fosse liberto da droga. Eu ia a casa dela e ela dava-me sempre dinheiro, mas obrigava-me sempre a ler o salmo 121 com ela. Elevo os meus olhos para os montes de onde vem o meu socorro… e isso não me saía da cabeça. Devido aos consumos perdi o emprego (nesta altura já estava com cerca de 30 anos) e comecei a trabalhar com a minha mãe no café dela e mexer no dinheiro era o prato do dia.
Acompanhado no CAT pelo Dr. João Goulão, iniciei o tratamento de metadona, subindo cada vez mais as doses, com várias idas para comunidades terapêuticas, todas com curta duração… uma delas o Desafio Jovem, onde estive 2 dias, em Salvaterra de Magos, e nada resultava. Uma fuga para o precipício… tinha perdido a esperança… Entretanto fiquei a receber um subsídio de desemprego bastante alto, devido ao meu emprego na financeira, e assim continuava a sustentar os meus vícios.
Há uma noite em que tentei acabar com este sofrimento com uma tentativa de suicídio, mas o Dr. João Goulão convenceu-me a não fazer nada e no dia seguinte, de manhã, fui ao seu consultório para me dar uma nova medicação. Foi um anjo, para que eu não tivesse morta certa. Passados uns tempos, fruto de ser insulina-dependente tive uma noite que nunca mais me esqueço. Senti-me a morrer e via e sentia demónios e comecei a gritar pelo nome de Jesus e percebi que havia seres vestidos de branco a lutar com esses demónios e acabei por perceber que o mundo espiritual é uma realidade. Falei com a minha avó sobre este episódio e foi assim que conheci o Pastor Elias e o Desafio Jovem onde estive apenas estive 2 dias e fui-me embora.
Novamente consumos e mais comunidades, até que um dia em Olhão sou abordado pela equipa de rua do Desafio Jovem. Comecei a ir ao Café-Convívio e há um dia em que entro no CC e tinha 2 pacotes de droga para consumir, mas nesse culto tomei a decisão de vir novamente para o Desafio Jovem. Quando o culto acabou peguei nos 2 pacotes e…não os joguei pela sanita, ainda os consumi, mas tomei a grande decisão que mudou a minha vida. Com a ajuda da Sónia Pepic, Igreja Baptista de Faro e Café-Convívio de Olhão comecei uma nova etapa, com a minha mãe sempre a acreditar em mim e a fazer tudo para que eu saísse daquela vida.
Dia 16 de Novembro de 2004 entro em Salvaterra, com menos 20 kilos do que tenho agora, sem esperança, mas sentia que era a última oportunidade que eu tinha, pois sentia-me prestes a morrer. No Centro de Salvaterra aconteceu a resposta às orações da minha avó, da Igreja, da minha mãe e de todos que em fé acreditavam que a minha vida tinha um propósito.
Encontrei em Salvaterra o Autor da Vida! Com muita luta, vontade de desistir, muitos dias de choro, mas amigos que ainda guardo para o resto da vida. Quero agradecer ao Rui Câmpoa, pelas vezes que não me deixou desistir, ao Toni Barbosa, à Esperança Marques, à Zézinha e aos filhos dos cooperadores que eram ferramentas cirúrgicas de Deus para me trazerem sorrisos e alegria nos dias mais cinzentos.
Lembro-me de uma vez estar a fazer os preparativos para abandonar e entrar a Inês Barbosa onde eu estava, olhou para mim e disse: Tu não estás a pensar ir embora, pois não?? Deus ama-te e tem um propósito para ti!
Nesse dia percebi que Deus estava mesmo muito perto de mim, porque ela foi direta à capela e, Deus atento, usou uma criança para me voltar a colocar no caminho certo.
Nesse ano, tomei a decisão de entrar na Operação Josué, fruto de ver as famílias que serviam no centro e a alegria de todos, e de ter dito um dia a Deus: quero isto para a minha vida. Entrei na Operação Josué no dia 7 de fevereiro de 2007, onde conheci a minha esposa. Casámos no dia 14 fevereiro de 2009. Temos um filho, Samuel já com 9 anos.
Durante 11 anos, vivemos nos centros de Fanhões, Alter do Chão e Cucujães, onde servimos como cooperadores. Saímos em 2017 sendo que eu continuo a trabalhar no Desafio Jovem e a minha esposa trabalha na Associação Rute como auxiliar de cuidados médicos.
No programa houve um versículo que me marcou imenso:
Êxodo 20:2 – Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
Hoje em dia tento ao máximo encorajar pessoas, pois sinto que aquilo que Deus me pede é para levar esperança a todos, por isso nunca me esqueço de fazer o bem, principalmente aos irmãos da fé. Gálatas 6: 9 e 10.
Sinto que o meu tempo nesta casa tem sido para meu crescimento e para bênção dos que me rodeiam e estou muito grato ao Desafio Jovem, a todos os colegas, aos rapazes. Sem esta casa, não tinha história para contar.
Também gostava de fazer um agradecimento especial para a família do irmão do CCVA de Benavente Francisco Trindade e do irmão Mário Caseiro que ao longo do meu programa em Salvaterra de Magos me convidavam a ir almoçar e jantar nas suas casas e me encorajavam a prosseguir no caminho. Também ao Pr Nelson Amorim e à Igreja Baptista de Faro todo o apoio que me deram durante largos anos em sustento e em alento para não desistir.
Por fim, ao meu sobrinho Daniel Gago, que com um ano foi instrumento de Deus para me levar a vir de vez para o Desafio Jovem e de nunca o vir a envergonhar. Fez 1 ano a 15 de Novembro de 2004 e eu entrei no programa a 16 de Novembro de 2004.
Não sei qual é a tua situação, mas quanto a mim quando eu pensava que já não havia solução, encontrei em Jesus a solução. Desafio-te a procurar ajuda e estamos cá para te receber!