Nelson Carolino

Olá, sou o Nelson Carolino e tenho 45 anos.

Atualmente vivo na Amadora e tenho uma vida estável e com propósito, mas nem sempre foi assim…

Morei em Belém até aos 13 anos e sempre tive muita liberdade nas minhas saídas de aventura, o que me fez experimentar de tudo e ultrapassar todos os limites, os que me eram impostos e até mesmo os meus, levando-me a enveredar por gostos um pouco fora do normal, como furtos, fumar, bebidas alcoólicas e consumos de algumas drogas consideradas “leves”, como por ex.: comprimidos e haxixe.

Depois dos 13 anos fui viver para Porto Salvo e frequentava a escola na Casa Pia de Lisboa, no Restelo. Sempre procurei pertencer ao grupo mais rebelde, tinha muita facilidade em me enquadrar e não tinha que me esforçar muito em agradar, pois o que era necessário fazer já se tinha tornado a minha forma de viver.

Aos 16 anos deixei a escola, pois já tinha chumbado 2 anos e não se adivinhava melhoras, então fui trabalhar para a construção civil. 

A minha vida continuava a crescer torta e agora com um ordenado e muito mais liberdade de decidir os meus passos. Todos os consumos aumentaram e o estilo de vida ia ficando cada vez mais longe do certo e cada vez mais perto de um poço sem fim.

Com 18 anos fui trabalhar para uma fábrica, mais uma vez a minha atração pelo que não é correto veio ao cimo. 

Eu já tinha iniciado o meu consumo com a heroína e a cocaína, mas era muito esporádico, pois o grupo de amigos que eu tinha na altura não consumia. Nessa fabrica conheci pessoas que me ajudaram na descoberta dessas ditas drogas duras, escusado será dizer que aos poucos eu me fui degradando. Os meus empregos mudavam muito rapidamente, não conseguia estabilidade na minha vida, deixei os amigos que não me acompanhavam nos meus excessos e procurei outros com qual me identificava melhor. Os consumos aumentaram até ao ponto em que me tornei completamente dependente da heroína e da cocaína, o casal ventoso tornava-se cada vez mais a minha casa, os furtos aumentavam, tornava-me cada vez mais violento e com isto tudo vinham os problemas, que muitas vezes me deixaram em “maus lençóis”.

 Em 1996 fui condenado a 3 anos por furto, aquilo que eu temia e que jamais imaginava que me pudesse acontecer estava a ser real: Numa manhã comigo ainda a dormir entraram uns GNR pela casa dentro e levaram-me para a prisão. Foram tempos muito difíceis, estar sempre desconfiado de tudo e todos e ficar privado da liberdade, deformaram a minha personalidade, fizeram com que agisse e reagisse às situações de forma diferente. Aprendi uma nova forma de ver e sentir a liberdade, o que me ajudou na altura em que me foi dada a autorização para deixar o estabelecimento prisional. 

Quando saí procurei alinhar a minha vida com aquilo que eu sabia fazer de melhor, para me manter longe das drogas duras. Arranjei trabalho e procurava ter amizades mais saudáveis que aquelas que eu tinha. Continuava a consumir de tudo, menos a heroína e cocaína, comecei a ir a festas e experimentar as várias drogas alucinogénias, sempre com muitos excessos e sem limites, a falta de responsabilidade e de compromisso eram evidentes na minha vida.

Foi num cenário destes que conheci a Sónia, a mulher da minha vida, e olhando para a situação com os olhos que tenho hoje posso dizer com toda a certeza que ela é a mulher que Deus colocou no meu caminho para fazer parte, num todo, na minha vida.

A Sónia tinha feito o programa do Desafio Jovem e falava-me de Deus. Nessa altura apesar de ela estar desligada da igreja, ela falava-me da experiência que tinha tido com Deus, no Desafio Jovem e das pessoas apaixonadas por vidas como a nossa. Gente verdadeiramente empenhada em ajudar de forma desinteressada.

O tempo passou muito rápido, a Sónia vivia sozinha num apartamento e desde a 1ª noite, que ficámos a viver juntos até aos dias de hoje. Dois meses depois estávamos à espera um filho, e apesar de eu nessa altura não consumir heroína nem cocaína, bebia muito e fumava ganzas.

Seis meses depois do nosso filho nascer, recaímos os dois na heroína e na cocaína e nessa altura a minha sogra que nunca desistiu de nós, insistiu para que fossemos para o Desafio Jovem. Mais uma vez a Sónia falou-me de Deus, como sendo a nossa única saída.

Começámos a ir ao café Convívio de Benfica e entrámos passado alguns meses, a Sónia em Lourel e eu em Salvaterra, era Outubro de 2001.

Aí tive o privilégio de ser acolhido de uma forma que verdadeiramente marcou a minha vida até hoje e acredito que para sempre. 

Foi-me dado a conhecer um Deus de Amor, de perdão e de oportunidades que foi moldando o meu carácter e me restaurou. 

No final do programa fomos convidados a ficar a colaborar no Desafio Jovem através do programa Vida Emprego durante 4 anos e depois durante mais 6 anos, nesse tempo tive a oportunidade e o privilégio de retribuir um pouco do que me foi dado, aos homens que chegavam na mesma condição em que um dia também eu estive.

Hoje sou um homem completamente diferente, sou marido, sou pai, tenho um emprego e sou feliz!

Quando saímos do centro, além de termos o nosso trabalho e estarmos a frequentar a igreja de Benfica, que sempre nos apoiou, fomos convidados a colaborar com o Pastor Álvaro nas reuniões da casa de saída que a igreja tinha, apoiando e orientando alguns ex-alunos do Desafio Jovem, que estavam também eles reinseridos na sociedade e na igreja. Além disso começámos a ser responsáveis por fazer as refeições das reuniões de jovens – Nocturnos. 

A vida tens-nos trazido alguns desafios e vitórias fantásticos, também dissabores bastante duros, mas a vida é mesmo assim! Mas uma coisa eu sei, hoje não sou mais o mesmo e Deus fará sempre parte de mim! 

Sou grato e sou feliz!