Carlos José

Minha infância foi passada numa ilha, onde morava, o que fez com que vivesse um bocado afastado de tudo. 

Aos 18 anos fui para a tropa, com uma grande “sede” de tudo.

Foi aí que tive o primeiro contacto com as chamadas drogas leves, mas, entretanto, tive um acidente que fez com que estivesse 5 meses num hospital. 

Quando regressei à ilha senti que já não conseguia morar ali.

Arranjei trabalho em Espanha e fui morar para lá. 

Foi tudo de rompante, a independência, o estar sozinho, dinheiro, noites, jogo e claro, drogas, mas agora mais pesadas, e um desejo enorme de experimentar todo o tipo de drogas, mas de alguma forma consegui ir controlando. 

Passados 3 anos voltei para Portugal, com vontade de parar. Foi ainda pior. Os consumos cada vez maiores e a vontade de experimentar muito maior ainda.

Eram trabalhos atrás de trabalhos pois era difícil conseguir mantê-los.

Como, devido a ter vivido na ilha, era fácil para mim conseguir dinheiro na apanha de marisco, então passou a ser essa a fonte de rendimento para sustentar meus vícios. 

Vivia num conflito interior, pois se por um lado era o gosto pelas drogas, pelo outro e ao mesmo tempo o desejo de parar. 

Decidi então entrar para a Remar, mas assim que regressei ainda foi pior. Começou a ser um ciclo, ia para o centro estava lá uns meses, voltava e os consumos continuavam, voltava para o centro. E foi assim por 4 ou 5 anos.

Numa dessas idas e vindas, tive um relacionamento que acabou em gravidez. Eu tentei, mais uma vez, ser um homem bem-comportado, mas não consegui. Tentei muitas vezes, mas sem sucesso.

Passados uns meses da minha filhota ter nascido, eu estava com uma depressão profunda.  

Saí da casa onde morava com a mãe e a filha. Fui viver para as ruas, desisti completamente de lutar pois percebi que era inútil. O “amor” pelas drogas falava mais alto. Foi o descalabre completo, experimentei tudo o que havia para experimentar, chegava a consumir 4 e 5 drogas diferentes por dia. Só pensava em morrer. 

Na altura o Pastor Rodrigo e uma equipa de rua, iam à fábrica abandonada onde eu morava, falar de Deus. Confesso que estava mais interessando na comida que levavam de que noutra coisa.

Mas a verdade é que ficava a pensar o porquê de eles irem a um sítio tão perigoso e cheio de lixo para falar connosco. Falavam de um café convívio, um dia acabei por ir.

Foi nesse dia que, na mesa onde estava sentado, alguém me falou do Desafio Jovem. Não foi o que ele me disse nesse dia, porque para mim o “discurso” era sempre o mesmo, mas foi o que eu vi nos olhos dele, esse rapaz sabia algo que eu não sabia. Não sei o que se passou, mas sei que naquele olhar eu vi esperança, eu vi um caminho. 

E aquela luta de tentar voltar a ter uma vida normal, renascia outra vez. 

Eu sempre que estava com a minha filha Sara pensava que ela merecia um pai melhor, e talvez esse fosse o caminho: O Desafio Jovem. 

Entrei em setembro de 2006, decidido a mudar de vida e sempre com o que tinha visto no olhar do rapaz no café convívio na mente. 

Conheci o Deus que o Pastor Rodrigo falava, e foi Ele que me deu vida. 

Fiz o programa completo, com muitas lutas no meio. Mas graças a Deus e aos cooperadores que estavam lá, consegui. Aprendi muito, muito mesmo, aprendi tanto que as palavras ainda hoje soam na minha cabeça. 

Acabei o programa em 2007 e já não voltei ao Algarve, queria ter uma vida nova. 

Fui para Fanhões e arranjei trabalho, Deus fez com que a mãe da minha filha fosse também morar para Lisboa. 

Deus preparou todo o caminho. Podia ter e fazer visitas à minha filha. 

Entretanto conheci a Mafalda que é hoje a minha esposa e Deus deu-me mais uma filha e o privilégio de poder ter uma família. 

Hoje vivo em Inglaterra, com minha esposa e filha. A minha filhota mais velha veio cá no verão e no Natal, mas graças a Deus a partir de setembro vem morar comigo de vez. Só Deus sabe o quanto eu desejava isso.

Agradeço a Deus e a todos que Deus usou e que se deixaram usar, por tudo.

Foram muitas as pessoas e a todas estou e estarei eternamente agradecido.